Parte 01: O começo!!!!
Abaixo me apresento, não para
demonstrar o que sei, mas apenas para dizer quem sou.
Meu nome é Gilberto Fernandes da
Silva, sou Psicólogo Clínico, Gestalt Terapeuta, Policial Civil do Rio de
Janeiro, Pós-graduado, pela PUC/Rio em “Atendimento a Crianças e Adolescentes
Vítimas de Violência Doméstica”.
Possuo larga experiência em entrevistar
crianças e adolescentes suspeitos de serem vítimas de abuso sexual e maus
tratos, realizo palestras e ministro mini cursos sobre o tema. Também sou
ajustador mecânico, mandrilhador e torneiro mecânico. Fiz um pouco de
artesanato e até já vendi sanduíche natural.
Bem, essa é minha apresentação
formal, creio que seria mais adequado a proposta do blog, começar contando um
pouco de minha história e como a psicologiae profissão de policial se cruzaram
em minha vida.
Vamos lá, no final da década de
80, estava eu desempregado, vivendo de biscates e cursando "a duras penas" a
faculdade de psicologia do Instituto de Psicologia da UFRJ, quando encontrei
por acaso, um velho amigo, que me perguntou se eu iria fazer prova para
Detetive da Polícia Civil. De pronto disse que não tinha nenhuma vontade em ser
policial. Entretanto ele usou um argumento forte. O salário era muito bom,
cerca de 10 salários mínimos na época. Bem, para quem estava desempregado que nem eu era
ótimo. A escala era 24 por 72 e dependendo de onde fosse lotado era possível ir
à faculdade durante o plantão. Na época minha dificuldade em conseguir emprego
na área que tinha experiência, era justamente essa. Cursava a faculdade em
período diurno e como metalúrgico era difícil conseguir emprego no horário
noturno.
Bem diante de minha realidade
financeira “falencial”, concordei em fazer a prova. Passei,em todas as etapas.
E no final de 1989, tomei posse como Detetive de Polícia civil, aqui no Rio de
Janeiro.
Fim da parte 01. ***Pausa para tomar uma água ou um café.
Parte 02: A continuação!!!
Nos primeiros meses do ano de
1990, procurava estágio, já visando à formatura. Uma amiga me avisou que a Organização Não Governamental
ABRAPIA, estava aceitando estagiário, e o melhor remunerando. Realizei minha inscrição e fui
aceito.
Foto: Internet Essa ONG atuava em casos de violência doméstica e maus tratos,
inclusive abuso sexual. Depois de mais de um ano estagiando deixei a ONG.
Aprendi muito lá, trabalhei com ótimos profissionais. Em 1994 conclui minha graduação e de certa
forma abandonei a psicologia e fui me dedicar ao trabalho policial.
Em 1996 ajudei a estruturar o
projeto, hoje conhecido na Polícia Civil do RJ como, Delegacia Legal. Em 2000,
já lotado na Corregedoria de Polícia Civil, ajudei na implantação do setor de
análise daquele órgão correcional.
Creio que nesse momento as interseções
entre polícia e psicologia começaram a se desenhar e manifestar sua força. Em
fevereiro de 2000, fui lotado compulsoriamente, na DPCA (Delegacia de Proteção
a Criança e ao Adolescente), onde trabalharia no Núcleo de Defesa da Criança e Adolescente- NDCA.
A princípio relutei, reclamei e me movimentei junto aos
contatos que tinha para que retornasse a minha lotação antiga. Diante de mim o
chefe de polícia disse, ao corregedor dá época, que eu não voltaria a ser
lotado na Corregedoria. Nesse momento, eu já estava matriculado e cursando a
capacitação, obrigatória para ser lotado no NDCA. Eu era um dos alunos mais
revoltados e descontentes durante a capacitação até aquele momento.
Entretanto
diante da realidade nua e crua, relaxei e passei a cooperar com as atividades
do curso de capacitação. Cabe frisar que
todos os policiais e técnicos que comporiam o NDCA, foram voluntários, menos
eu.
Minha cooperação foi tanta que
depois de iniciada as atividades do setor, me escolheram para ser o coordenador
do NDCA. Assim foi e por cerca de 12 meses na coordenação do Núcleo. Nesse período
por insistência de algumas das psicólogas do setor, dei entrada no meu CRP.
Eu
deixei a psicologia de lado ao ponto que depois de 06 anos de formado nem CRP
eu tinha. Naquela época o setor foi
criado por conta da atuação do Juiz da Vara de Infância e Juventude Exmo Dr.
Ciro Darlan. O setor era formado por policiais civis, com formação em
psicologia ou pedagogia e por psicólogos e assistentes sociais. Sua criação foi
motivada por conta de uma pesquisa realizada pela FGV, na qual apontava que num
universo de 105 denuncias de abuso sexual, apenas uma foi a processo e mesmo
assim o acusado foi absolvido. Essa era a realidade dos crimes sexuais
envolvendo crianças e adolescentes, no final da década de 90.
Fim da parte 02.***
Nova pausa para um cafezinho e uma água.
Parte 03: O final (até que enfim)
Depois da criação do NDCA e com a
atuação de psicólogas e assistentes sociais nos casos registrados pelo setor,
nos quais crianças eram vítimas. Essa realidade mudou, ao ponto de, num
trabalho conjunto entre Conselho Tutelar da Zona Sul e NDCA, foi possível
indiciar, processar e condenar um homem que havia estuprado as três filhas
adolescentes. Destaco que o último estupro havia ocorrido há cerca de 03 anos
antes da denuncia.
Entretanto como tudo que é bom
dura pouco, alguns meses depois que deixei a Coordenação do Núcleo, a DPCA
passou a fazer parte do projeto Delegacia Legal, como o NDCA, não podia ser absorvido pelo
sistema Delegacia Legal, o mesmo foi instinto.
Nesse momento, os psicólogos e
assistentes sociais retornaram aos seus órgãos de origem ou foram remanejados.
Dos 05 policiais apenas eu e mais um ficamos na DPCA.
Diante dessa realidade e já consciente
da imprescindível atuação do psicólogo, nos casos de abuso sexual ainda na fase
de inquérito policial, propus a delegada titular da DPCA, ha época, que
autorizasse minha atuação e a do outro policial como psicólogo voluntário, nos
casos em que crianças e adolescentes figurassem como vítimas. Assim foi feito,
realizávamos nossas atividades policiais e nas horas de folga entrevistávamos
as crianças e adolescentes vítimas de crimes sexuais e maus tratos. Tudo no
0800 ou seja, gratuitamente.
Este trabalho deu tão certo que
foi criada a DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima), delegacia
especializada, responsável por registrar a maioria dos crimes em que crianças e
adolescentes figurem como vítimas.
Durante, os quase 10 anos, em
que atuei no Serviço Voluntário de Psicologia/DPCA e posteriormente DCAV,
entrevistei algo em torno de 900 crianças e adolescentes. Neste período
centenas de abusadores foram processados e condenados, com o auxilio dos
relatórios produzidos pelo Serviço Voluntário de Psicologia/DCAV. Tal tempo de
atuação me deu uma boa experiência sobre o tema: Abuso Sexual Infanto-juvenil e
relações.
Em meados de 2011, o Serviço
Voluntário de Psicologia da DCAV, foi instinto, com isso o Estado do Rio de
Janeiro retrocedeu a década de 90, no que se refere a responsabilização
criminal dos abusadores sexuais. Hoje no Rio de Janeiro, não existe um órgão
oficial que se responsabilize por entrevistar crianças e adolescentes vítimas
de abuso sexual, com isso as chances do abusador ser condenado é quase zero, já
que nesse tipo de crime, na maioria esmagadora dos casos, não há testemunhas,
nem a presença de vestígios que possam ser identificado e estabelecido, pelos
peritos legistas, uma relação de causalidade entre os mesmos e o suspeito.
Pois é a Vida cria caminhos para nós que nem sempre é o que "queremos" e nos surpreende.... Seu trabalho é muito importante para a sociedade e que bom q vc encara dessa forma. É um dia a dia muito duro e, infelizmente, real. Peço a Deus que te dê sabedoria, visão e força para desempenhá-lo como uma verdadeira missão, pois acho que não é um trabalho que se opte, mas que é escolhido. Saúde e sucesso com a vida e com o Blog para que sirva de ajuda para muitas vidas. Grande abraço
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