terça-feira, 13 de novembro de 2012

O que é abuso sexual???

Abuso sexual infanto juvenil: como lidar?


                                                                                                                      Foto: Internet



    A CID-10 classifica a pedofilia como doença, a arrolando no item F65.4, dos transtornos da preferência sexual. O dicionário Mini Aurélio, 07ª Edição, não trata do tema. O código Penal Brasileiro, não fala em abuso sexual de forma explicita, porém em seu Título IV, onde trata “Dos crimes contra a dignidade sexual”, descreve condutas, as quais tipificam como crime, sendo as mesmas passíveis de serem qualificadas como abuso sexual infanto-juvenil.

    Em seu livro Abuso Sexual em Crianças/Fortalecendo Pais e Professores para Proteger Crianças Contra Abusos Sexuais e Pedofilia, a autora Christiane Sanderson, diz que o Abuso Sexual em crianças, “É de natureza social, tendo em vista que é influenciado de maneira intensa pela cultura e pelo tempo histórico em que ocorre, o que dificulta estabelecer uma definição aceita universalmente”, mais adiante ela diz que a “definição de abuso e criança varia nas diferentes culturas”. (Sanderson Christiane, São Paulo, 2005). 

    No Brasil, por exemplo, aos olhos da lei, até 12 anos incompletos é considerado criança. Acima de 12 já é considerado adolescente, porém segundo a última revisão do código penal, nos artigos “dos crimes contra a dignidade sexual” práticas sexuais com adolescentes até 14 anos incompletos é considerado estupro de vulnerável. A própria Sanderson dedica um capítulo inteiro do livro para falar sobre o que é abuso sexual em crianças, porém mesmo assim não é possível chegar a uma conclusão universal e definitiva sobre o tema. Outros autores também tentam definir abuso sexual, porém também sem êxito.
     Talvez o leitor esteja se perguntando: Para que definir, eu sei o que é abuso sexual e isso basta! Não discordo do leitor, mas definir ajudaria estabelecer políticas públicas para combate e prevenção da pedofilia, ou melhor, do abuso sexual. O mais estranho disso é que uma prática milenar como o abuso sexual, ainda hoje, em pleno século 21, não conseguiu se quer ser definida.  Por que será???
    Se você leitor, conseguir pensar sobre o tema: abuso sexual infantil, já estará dando o primeiro passo para quebrar o que no meu entendimento é o maior impedimento para que se busquem soluções para o tema: O tabu. Sim o tabu impede que se pense livremente sobre o abuso sexual infantil dificultando a busca de soluções e respostas para o mesmo, PENSAR NÃO É CONCORDAR, MAS SIM UMA FORMA DE COMPREENDER PARA PODER COMBATER, POIS NÃO SE COMBATE O QUE NÃO SE CONHECE. 
     Enquanto percebermos o abuso sexual infantil pela ótica do tabu, não caminharemos em direção a uma solução. Pois o tabu não admite questionamentos, mas tão somente punição. Na minha opinião, é por conta disso que até hoje a ciência não foi capaz de dizer o que é, porque acontece e como prevenir o abuso sexual infantil.

    Bem, eu não sou teórico, nem tão pouco dono da verdade, mas por vários anos me vi diante de centenas de histórias de abuso sexual infanto juvenil. É a partir desse ponto e com base nessa experiência que me aventuro nesse tema. Não tenho a menor pretensão de criar um arcabouço teórico ou um método para abordar tal questão. Apenas gostaria de dividir minha experiência com vocês na esperança de que possa ajudar de alguma forma.
"PENSAR NÃO É CONCORDAR
MAS SIM, UMA FORMA DE
COMPREENDER PARA
 PODER COMBATER,
POIS NÃO SE COMBATE
 O QUE NÃO SE CONHECE".

   Então vamos lá! No meu entendimento existem três formas básicas para lidar com a questão: a forma preventiva, a forma acolhedora e a forma reativa.

Parte 01: Forma Preventiva:


      Quando se fala em prevenção a abuso sexual infantil, muita gente pensa na divulgação dos casos de ataques de pedófilos a crianças e adolescentes. Não deixa de ser uma forma e muito eficiente por sinal, mas faço uma pergunta: Na prática a simples divulgação tem ajudado a reduzir o nº de casos? Em caso positivo em quantos por cento foi reduzido? Algumas pesquisas estimam  que de cada 10 casos de abuso sexual apenas 01 é revelado, ou seja 10% do total. Isso é apenas um dado, mas qual o total de casos? Como o pedófilo atua? isso importa? Qual o tipo de vítima preferencial do pedófilo? Existe idade mínima ou máxima? Existe preferência por gênero? Ou por classe social? Ou etnia? Muitas perguntas e poucas respostas.

      Convenhamos nesses casos falar em prevenção a primeira vista se apresenta como uma “coisa meio estranha”, pois como vamos nos prevenir de coisas que não conseguimos, se quer definir.  De coisas que quem sabe mais sabe apenas 10% da realidade? Pior do que não conseguir definir é, inconscientemente, se recusar a pensar sobre o tema. Afinal estamos falando de um tabu. Também quem em sã consciência vai querer ouvir as motivações que levaram um pedófilo a abusar de uma criança? Quem concordaria com a expressão: “ela me seduzia enquanto brincava com sua Barbie???”

    Que infame mortal, não se revoltaria ao ouvir uma criança dizer que durante o banho o pai a obrigava a fazer sexo oral nele? Creio que ninguém, mas pensemos:  EVITAR PENSAR SOBRE O TEMA TEM AJUDADO A QUEM?

   Bem, esse é o “X” da questão. Calma antes que me excomunguem ou minha orelha comece a queimar, vou explicar, e para tanto vou usar uma reflexão, mas antes devo dizer ao leitor, que se você chegou até aqui é porque continua no processo de: REFLETIR SOBRE O ABUSO SEXUAL INFANTIL. Agora que você já sabe, continuar é uma escolha sua.
Bem, vamos a questão: Existe algo em comum entre: AIDS e ABUSO SEXUAL INFANTO JUVENIL???
Nossa!!! Quanta cara de paisagem ao ler a pergunta! Respondo: Claro que sim.

Vou citar alguns pontos de interseção entre a AIDS e o abuso sexual infanto juvenil.
Primeiro: Tanto a AIDS, quanto o abuso sexual infanto juvenil passam de alguma forma ou em algum momento pelo exercício da sexualidade humana.
Segundo: Ambos estão carregados de preconceitos.
Terceiro: Ambos são lucrativos.

Ainda tem alguém lendo o texto? Espero que sim. Bem, continuando, vou aprofundar mais um pouco minhas afirmações.
    1)      “Tanto a AIDS, quanto o abuso sexual infanto juvenil passam de alguma forma ou em algum momento pelo exercício da sexualidade humana”. Vejamos uma das formas de se contrair o vírus HIV, é através de relação sexual. O abuso sexual infanto juvenil envolve práticas sexuais entre um adulto e uma criança/adolescente. Estão vendo? Simples e direto.

 
    2)      “Ambos estão carregados de preconceitos”. Outra verdade, ainda hoje, mesmo com todas as campanhas de divulgação na mídia, ainda existe muito preconceito contra a pessoa soro positiva. Cabe destacar que tem diminuído muito se comparado com o inicio da década de 80, quando o tema veio à tona, através da mídia impressa e televisiva. No que se refere ao abuso sexual infanto juvenil  tanto a vítima quanto sua família e até mesmo o abusador também são vítimas de algum tipo ou em algum grau de preconceito ou discriminação.

 
     3)      “Ambos são lucrativos”. Isso é obvio, os grandes laboratórios ganham fortunas com medicamentos que minimizam os efeitos do vírus HIV, permitindo com isso uma vida normal ( se é que existe vida normal) a esses indivíduos. No mercado negro mundial a pedofilia ou se preferirem: a exploração sexual infanto juvenil, está entre as 03 maiores atividades criminosas mais rentáveis do mundo, ao lado do tráfico de armas e drogas.


   Vocês conseguiram perceber: A AIDS, surge há cerca de 30 anos e hoje depois de muita pesquisa já se isolou o vírus HIV, já se descobriu como se viver e conviver com ele de forma praticamente normal. E o ABUSO SEXUAL INFANTO JUVENIL, que é uma atividade milenar não se sabe quase nada, nem se pesquisa. POR QUE SERÁ???

    Pergunto eu, na minha santa ignorância e ingenuidade: Alguém já tinha pensado o abuso sexual infanto juvenil dessa forma? Vou deixar vocês pensarem um pouco e postarem comentários, mais tarde volto ao mesmo assunto.....

   Voltei! E aí pensaram no que leram? Bem isso os comentários ou o calor na minha orelha vão dizer. Pessoal, na verdade minha intenção com esse texto é levar o leitor a refletir sobre o tema. Espero ter atingido, pois esse, no meu entender, é o primeiro passo para se desviar o foco do combate ao pedófilo desmascarado, para o real combate a pedofilia. O que não deixa de ser uma forma de prevenção.
Parte 02: Prontos para prevenção???
Quatro pontos importantes devem ser observados quando se aborda casos de abuso sexual infantil:
1) Via de regra o abuso sexual infantil, não ocorre ao acaso ou é cometido por pessoas estranhas ao universo da criança. Na maioria esmagadora dos casos o abusador tem fácil acesso a vítima e a sua família. Pode ser um parente, um professor, um médico, um psicólogo, um amigo ou conhecido da família.
2) Outro dado importante: o abuso sexual infanto juvenil é um crime democrático, manifesta-se em todas as classes sociais, culturais, financeira, etc.
3) Geralmente o abusador é uma pessoa que não desperta a desconfiança ou suspeitas dos membros da família, o que facilita a instalação e manutenção do segredo, condição fundamental para garantir a impunidade e o anonimato do abusador.
4) Ainda não temos como identificar um abusador sexual antes que ele abuse de uma criança/adolescente  e esse abuso seja revelado.
   Resumindo: O abusador já pode estar dentro da sua casa. Nenhuma família está imune ao abuso sexual infanto juvenil. O abusador não tem cara de abusador. Costumo dizer que o abusador está mais para Papai Noel, do que para “Homem do saco”. E por fim não existe prevenção eficaz contra o abuso sexual infanto juvenil.
   Diante dessa dura realidade, posso dizer que a melhor forma de proteger nossos filhos contra o abuso sexual é o diálogo franco e aberto com eles. É nos fazermos presentes na vida de nossos filhos, desde tenra idade. Quando falo presente, me reporto a uma presença amorosa e respeitadora, que promova e estimule o desenvolvimento psicoemocional da criança/adolescente.
     Pode parecer uma resposta singela e simples diante de um problema milenar e com alto poder de desestruturar uma família, mas posso afirmar ao leitor que da mesma forma que o simples gesto de lavar as mãos pode prevenir muitas doenças infectocontagiosas o hábito de dedicar aos filhos, desde cedo, pelo menos uma hora por dia de atenção pode gerar um vinculo capaz de impedir que o abusador ataque seu filho ou se não, facilitar que seu filho conte logo no início os abusos sofridos, prevenindo assim a ocorrência de maiores danos emocionais.
     Cabe observar que quando falo em atenção aos filhos me refiro a estar com eles, a brincar com eles, a promover atividades que sejam interessantes para eles. Isso pode parecer simples, mas diante de um modo de vida agitado, estressante e automático no qual vivemos, parar para brincar pode ser um das atividades mais difíceis de executar. Se assim não fosse o mundo atual não teria tanto problemas com crianças e adolescentes, como temos atualmente.

A Forma Acolhedora

  Está forma fala sobre respeito ao humano das pessoas envolvidas com a situação de abuso sexual infanto juvenil. Esse pensamento vale até para o abusador, pois quando falo em respeito, não digo que concordo com o abuso, porém entendo não ser juiz para julgar alguém.
   A forma acolhedora se faz útil e necessária diante um caso de abuso sexual infanto juvenil  já revelado pela criança/adolescente e  que  tenha vencido a dura e difícil barreira do SEGREDO.
  Nessa fase é necessário ouvir o que a criança tem a dizer, mesmo que seja o silêncio. Não devemos abordar a criança com perguntas diretas ou indutoras: “papai enfiou o dedo em sua pepeca?” ou “porque não me contou nada quando aconteceu a primeira vez?” Ou “Você tem certeza que isso aconteceu?”
  Devemos ter como parâmetro o estado emocional da criança de uma forma geral e como ela se posiciona diante dos abusos sofridos. Ela está calma? Agitada? Nervosa? Apática? Sem Fome? Introvertida? Isolada? Etc...
Foto: Internet    Se formos fazer perguntas a criança/adolescente (e claro que faremos perguntas), essas  perguntas não  devem ter um caráter  invasor ou questionador, mas sim buscar facilitar com que a criança/adolescente  fale  de si mesma, partindo do ponto que ela perceba como mais fácil e simples para ela. Por exemplo: O abuso foi revelado e o pai quer ouvir da criança o que aconteceu. Sugiro que a leve para um lugar reservado, porém conhecido da criança. Não leve um batalhão de gente junto, vá o pai e mais uma pessoa escolhida pela criança. Não interrogue a criança, apenas pergunte da forma mais tranquila possível: “filha eu soube que aconteceu alguma coisa contigo e que você não gostou, você poderia me contar?” Ela sabe que essa “coisa” que o pai pergunta é sobre o abuso sexual. Se esse pai é uma figura presente no dia a dia da criança e diálogos entre pai e filha for algo comum na vida dela, as chances dela revelar para o pai o que aconteceu é muito grande.
    Existe uma variedade enorme de sentimentos envolvidos nos casos de abuso sexual infantil. Alguns ligados diretamente com o abuso em si. Raiva, dor, ódio, ressentimento, descaso, tristeza. Etc...
    Outros ligados aos conflitos internos de cada um dos envolvidos. A criança confusa e ansiosa não sabendo lidar com a confusão de sentimentos que afloram no período pós revelação. Bem como também não sabendo lidar com seus sentimentos em relação ao abusador ou ao próprio abuso em si.
    A genitora mergulhada numa culpa paralisante por não ter protegido a filha, ou envolta na angustia de denunciar o homem que ama. Confusa sem saber o que fazer diante das avalanches de cobranças, tanto por parte da família, como por parte das instâncias legais envolvidas no abuso por atribuição legal.
   A família envolta em sentimentos de vingança, justiça ou acusação contra os responsáveis legais ou até mesmo contra a própria criança, “que acusa um ótimo homem sem provas”.  Por fim, o próprio abusador com medo de ser  processado e preso, por ter feito algo que em SUA CABEÇA não tem o menor problema, pois fez com a criança o que alguém faria um dia.
   Resumindo a revelação de um abuso sexual infanto juvenil gera uma crise no seio familiar, que se não for tratada de forma  adequada, tem o poder de desestabilizar toda a família.

 Por fim a forma reativa:

     Essa é a fase de denuncia. É a fase em que a mãe (geralmente ela), procura as instâncias legais   (delegacia, conselho tutelar, Ministério Público, etc) para relatar os abusos sofrido pela filha ou filho.
 
Vamos lá, comente! Deixe aqui o que você pensa. Vamos compartilhar e assim ajudar muitas famílias que passam por isso.
 

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